A santidade da Igreja


O Senhor Jesus Cristo cumpriu o trabalho de Seu ministério e morte na terra na Cruz; Cristo "amou a Igreja ... para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5:25-27). A Igreja é santa através de sua Cabeça, o Senhor Jesus Cristo. É santa, também, através da presença nela do Espírito Santo e Seus dons dados por graça, comunicados nos Mistérios e outros ritos sagrados da Igreja. Ela é santa também através de sua ligação com a Igreja celeste.

O verdadeiro corpo da Igreja é santo: "E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são" (Ro 11:16). Na verdadeira Igreja sempre houve e sempre há pessoas da mais elevada pureza espiritual e com dons especiais de graça — mártires, virgens, ascetas, santos monges e monjas, hierarcas, justos, benditos. A Igreja tem um incontável coro de pessoas partidas de todos os tempos. Ela tem manifestações dos extraordinários dons do Espírito Santo, tanto visíveis quanto escondidos dos olhos do mundo.

A Igreja é santa pelo seu chamado, ou seu propósito. Ela é santa também por seus frutos: "...tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Ro 6:22), como o Apóstolo Paulo nos instrui.

A Igreja é santa também através de seu puro e infalível ensinamento da fé: a Igreja do Deus vivo e, de acordo com a palavra de Deus, "a coluna e firmeza da verdade" (1 Tim 3:15). Os Patriarcas das Igrejas Orientais, considerando a infalibilidade da Igreja em seu ensinamento, se expressam assim: "dizendo que o ensinamento da Igreja é infalível, nós não afirmamos nada mais que isso, que é imutável, que é o mesmo que foi dado a ela no inicio como o ensinamento de Deus" (Encíclica dos Patriarcas Orientais, 1848, parágrafo 12).

A santidade da Igreja não é obscurecida pela intrusão do mundo na Igreja, ou pela pecabilidade dos homens. Tudo que é pecaminoso ou mundano que se introduz na esfera da Igreja permanece estranho a ela e é destinado a ser peneirado para fora e destruído, como erva daninha na época de plantio. A opinião que a Igreja consiste só de pessoas justas e santas sem pecado não coincide com o ensinamento direto de Cristo e seus Apóstolos. O Salvador compara a Sua Igreja com um campo onde o trigo cresce juntamente com o joio, e outra vez, com uma rede que tira da água bons e maus peixes. Na Igreja há bons e maus servos (Mt 18:23-35), virgens sábias e loucas (Mt 25:1-13). "Nós acreditamos," estabelece a Encíclica dos Patriarcas Orientais, "que os membros da Igreja Católica são todos os fieis, e somente os fieis, isto é, aqueles que sem duvida confessam a fé pura no Salvador Cristo (a fé que nós recebemos do próprio Cristo, dos Apóstolos e dos santos Concílios Ecumênicos), ainda que alguns fiéis possam se submeter a vários pecados. A Igreja os julga, chama-os ao arrependimento, e os conduz aos caminhos dos mandamentos salvíficos. E por isso, apesar do fato que eles são sujeitos aos pecados, eles permanecem e são reconhecidos como membros da Igreja Católica enquanto não se tornarem apóstatas e enquanto mantiverem a fé Católica-Ortodoxa."

Mas há uma fronteira que, se os pecadores ultrapassarem, eles, como membros mortos, são cortados do corpo da Igreja, seja por um ato visível da autoridade da Igreja ou por ato invisível do julgamento de Deus. Assim, aqueles que não pertencem à Igreja, que são ateístas ou apóstatas da fé cristã, aqueles que são pecadores caracterizados por uma teimosia consciente e falta de arrependimento por seus pecados, como é dito no Catecismo (artigo nono). Também entre aqueles que não pertencem a Igreja há heréticos que corromperam nossos dogmas fundamentais da fé; cismáticos que por vontade própria se separaram da Igreja (o Cânon 33 do Concílio de Laodicéia proíbe a oração com cismáticos). São Basílio, o Grande explica: "os antigos distinguiam entre heresia, cisma e assembleias arbitrárias. Eles chamavam heréticos aqueles que tinham se cortado completamente para fora e tinham se tornado estranhos na fé em si; chamavam-se cismáticos aqueles que haviam se separado por iniciativa própria por opiniões a respeito de certos assuntos eclesiásticos e em questões que permitiam tratamento e cura; eles chamavam de assembleias arbitrárias aquelas reuniões compostas de padres ou bispos desobedientes e povo não instruído."

A tradição da Igreja é irreconciliável com falsos ensinamentos e heresias. Por isso a Igreja guarda estritamente a pureza da verdade e ela mesma exclui os heréticos de seu meio.

- Padre Michael Pomazansky, Teologia dogmática ortodoxa

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